Archive for the ‘ciência’ Category

ESPECIALISTA EM ARQUEOLOGIA ARQUITETÔNICA INVESTIGA O MISTÉRIO DA ‘PIRAMIDE’ DA SERRA DO MAR

26 de fevereiro de 2013

CARLOS GOMAR TEM MANTIDO CONTATO COMIGO DESTE QUE TOMOU CONHECIMENTO POR ESSE BLOG SOBRE MINHAS REPORTAGENS QUE SÃO DE DEZ ANOS ATRÁS. INCONFORMADO COM O DESCASO DAS AUTORIDADES E DOS ACADÊMICOS PASSOU A BANCAR A SUAS CUSTAS A INVESTIGAÇÃO SOBRE A FAZENDA PALMEIRAS E ENCONTROU EVIDÊNCIAS CLARAS QUE PODEM REESCREVER A HISTÓRIA PRÉ-CABRALINA OU MESMO COLOMBIANA DA OCUPAÇÃO E VISITAÇÃO DO TERRITÓRIO BRASILEIRO. UM ESFORÇO SOLITÁRIO E DOS MAIS DIGNOS DE APOIO. VEJAM O SEU ÚLTIMO RELATÓRIO:

http://www.viafanzine.jor.br/site_vf/arqueo/relatorio_nativ_nota.htm

NESTE LINK HÁ DIVERSAS FOTOS, INCLUSIVE ALGUMAS QUE FIZ NA ÉPOCA E TAMBÉM PARA A GAZETA DO POVO, QUE O GOMAR CONSEGUIU RECUPERAR JUNTO A DIREÇÃO DO JORNAL, ONDE TRABALHEI E PUBLIQUEI AS REPORTAGENS.

FIZ AS FOTOS COM A PRESENÇA DO HISTORIADOR DE POVOAMENTOS ANTIGOS LUIZ GALDINO, EM 2004.

FIZ AS FOTOS COM A PRESENÇA DO HISTORIADOR DE POVOAMENTOS ANTIGOS LUIZ GALDINO, EM 2004.

Julio Ottoboni 11- JO Julio Ottoboni 10- JO Julio Ottoboni 9 - JO Julio Ottoboni 8 - JO Julio Ottoboni 7 - JO Julio Ottoboni 6 - JO Julio Ottoboni 5 - JO Julio Ottoboni 4 - JO Julio Ottoboni 3 - JO Julio Ottoboni 2 - Julio Ottoboni 1 - DSCN1998 DSCN1999 DSCN1995 DSCN2025 DSCN2031 DSCN2025 DSCN2024 DSCN2023

Paradoxo do aquecimento global

25 de abril de 2010

Em grandes altitudes, nuvens de fumaça têm efeito prolongando na atmosfera.

Um novo componente no combalido cenário atmosférico mundial pode provocar uma verdadeira revolução nos estudos sobre o aquecimento global. Trata-se do recém descoberto “escurecimento global”, um fenômeno natural que mantém o planeta resfriado e se contrapõe ao aquecimento na base da troposfera, denominado “efeito estufa”. Apenas três países estudam mais a fundo os efeitos desta nova componente no futuro climatológico do planeta. Entre eles se encontra o Brasil, associado aos Estados Unidos e a Inglaterra.

Os modelos climáticos usados até agora não levaram em conta todos os processos físicos que envolvem essa componente atmosférica, o que tornaria todas as projeções sobre as mudanças globais passíveis de largas margens de erros. Isto seria um verdadeiro desastre, principalmente quanto aos prazos estabelecidos para as ações mitigadoras e a contenção nas emissões dos gases de estufa, principalmente o dióxido de carbono (C02).

O “escurecimento global”, descoberto há mais de três décadas, foi praticamente ignorado pela comunidade científica até dois anos atrás, pois se tratava de um paradoxo. A hipótese de haver um fenômeno de resfriamento global também derivado das emissões poluentes se chocava frontalmente com os resultados de todas as pesquisas, que apontavam para o aquecimento global na baixa troposfera. Mais uma vez o meio científico se depara com a polêmica – e classificada como “telúrica” –, Hipótese de Gaia, do cientista britânico e membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Globais (IPCC, na sigla em inglês), James Lovelook. Nela, ele define a Terra como um ser vivo único, onde todos os elementos e seres estão interligados. E o planeta se auto-regula caso haja algum desequilíbrio.

No centro da questão técnica se encontram os aerossóis, diminutas partículas em suspensão na atmosfera, a maioria de origem natural ou por ação antrópica. Entre uma gama enorme de material particulado, oriundo de várias origens, se encontram desde o sal marinho, cinzas vulcânicas, queimadas florestais e a poeira mineral vinda das areias de desertos e solos descobertos. Em níveis mais altos da atmosfera, aerossóis de origem mineral refletem parte da radiação proveniente do sol. Este efeito tende a resfriar as camadas mais baixas da atmosfera, onde se localizam a maioria dos gases do efeito estufa, reduzindo a temperatura próxima à superfície.

Por outro lado, os aerossóis provenientes de queimadas de vegetação e de combustíveis fósseis liberam o chamado “carbono elementar”, conhecido como “black carbon”, que contribui para o aquecimento global.

O último relatório do IPCC indicou que o efeito total dos aerossóis contribui para o resfriamento do planeta, o que foi um choque para a maioria da comunidade científica, pois até o momento essas micropartículas eram as grandes vilãs do efeito estufa. O próprio documento de Paris alertou que a compreensão sobre esta nova componente no intrincado cenário do aquecimento global situa-se entre média e baixa. “O IPCC foi até agora muito modesto com o escurecimento global, os modelos não eram fisicamente resolvidos nesta questão”, revela o cientista Gilvam Sampaio, do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (Cptec), órgão do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Isso, porém, está sendo alterado pelo trabalho de Saulo Freitas, pesquisador brasileiro integrante do quadro de cientistas do Cptec. Ele explica que muitos modelos climatológicos ainda ignoram a interferência das nuvens de fumaça ou subestimam a altitude que as plumas possam atingir, limitando-se geralmente a quatro quilômetros. Isto seria um grave erro para se obter o quadro mais preciso do comportamento atmosférico.

Os estudos de Freitas mostram que as nuvens de fumaça podem ultrapassar a marca dos oito quilômetros e, em determinados casos e dependendo da latitude, alcançar a estratosfera, que fica a 12 quilômetros de altitude. Este fato torna-se relevante para os estudos climáticos, uma vez que as nuvens de fumaça em grandes altitudes possuem um tempo de permanência maior do que em regiões mais baixas, prolongando, conseqüentemente, seus efeitos na atmosfera.

Como esses gigantescos núcleos de condensação, que formam as nuvens, possuem bilhões de aerossóis, essas micropartículas associadas às gotículas de água funcionam como imensos espelhos refletores da radiação solar. Essa conjunção entre aerossóis e água na constituição das nuvens, além do maior tempo de permanência nos locais mais altos da atmosfera, rebateria a radiação para o espaço. E assim minimizaria o superaquecimento da superfície planetária.

Para o cientista do Hadle Center, órgão meteorológico da Inglaterra, Peter Cox, essa questão é de um nível de complexidade até então inesperada. Para ele, fica cada vez mais explícito que o aumento da temperatura terrestre causada pelo excesso de pode ter sido amenizado até agora pelos efeitos do “escurecimento global”.

Cox admite que os estudos sobre o efeito estufa podem ter ignorado os efeitos compensatórios deste fenômeno inverso, pois o “escurecimento” é responsável pela redução dos níveis de radiação solar que chegam à Terra e isto teria abrandado o problema do superaquecimento.

“O escurecimento global pode ter nos levado a subestimar o verdadeiro potencial do aquecimento global, o que seria um indicativo que o clima do planeta pode ser muito mais sensível ao efeito estufa do que se pensava anteriormente”, adverte o cientista britânico para desespero geral.

Os mesmos elementos que aquecem a superfície da Terra são também responsáveis pelo processo de resfriamento. Um efeito competitivo, que mostra um desequilíbrio que até o momento era ignorado. O universo científico se deparou com o terrível paradoxo: a mesma causa da doença é também a da cura. Ou seja, se o esfriamento for maior é porque o aquecimento também subiu. As pesquisas no centro britânico mostraram que os poluentes que esfriam a atmosfera estão diminuindo e os que aquecem estão em processo inverso. Os esforços para minimizar o efeito estufa na Europa Oriental deram resultados, houve uma sensível melhora na qualidade do ar, porém isto diminuiu o escurecimento na região. O ar ficou mais quente e surgiram diversas ondas de calor. A solução encontrada nos estudos preliminares é uma redução drástica em todos os tipos de emissões.
“Se continuarmos a lançar os particulados na atmosfera teremos graves doenças e mudaremos o regime das chuvas, mas não podemos também pensar em potencializar o escurecimento global, isto seria muito nocivo ao meio ambiente”, adverte Cox.

A notícia para os cientistas vem exatamente do Brasil, com a inserção dos aerossóis na dinâmica climática global desenvolvida pelos pesquisadores do Inpe. Gilvam Sampaio comentou que o papel dúbio destas partículas ainda é uma área muito nova nas pesquisas, porém isto não deverá afetar drasticamente os modelos climáticos rodados no Brasil, que consideram os elementos migrantes para a atmosfera a partir das queimadas.

Júlio Ottoboni

O perigo que vem do céu

25 de abril de 2010

Mesmo com toda a tecnologia espacial inexiste um programa de proteção do planeta

“O terceiro anjo tocou a trombeta. Caiu então do céu um astro enorme, ardendo como um facho. Precipitou-se sobre a terça parte dos rios e nas fontes de água. O nome do astro é Absinto. E se converteu em absinto a terça parte das águas. Muitos homens morreram das águas que se tornaram amargas. O quarto anjo tocou a trombeta. Foi ferida então a terça parte do sol, da lua e das estrelas, de sorte que escureceram em um terço. O dia e a noite perderam uma terça parte de seu brilho.

O quinto anjo tocou a trombeta. Vi uma estrela que caíra do céu sobre a terra. Foi-lhe dada a chave do poço do abismo. Abriu o poço e do poço subiu uma fumaça como a fumaça de um grande forno. O sol e o ar escureceram por causa da fumaça do poço.”

Livro do Apocalipse – São João

Hoje, o maior perigo de uma destruição em massa no planeta está longe dos conflitos internacionais, dos temores dos arsenais bélicos nucleares. Durante a história da humanidade esse risco sempre esteve no céu. Cerca de 6 mil corpos celestes acima de um quilômetro de diâmetro orbitam pelo espaço com chances de colidir com a Terra. Quanto mais os cientistas buscam por esses asteróides, mais evidente fica o realismo das visões atormentadoras de João, o evangelista do Apocalipse.

O mundo esteve a poucas horas de viver, no começo deste ano, um novo anúncio do Apocalipse. Só que desta vez não pelos escritos sagrados, mas dos cientistas que estavam na Conferência de Proteção Planetária. No dia 13 de janeiro de 2004, pesquisadores acharam que um objeto de 30 metros, denominado 2004 AS1, tinha uma chance em quatro de atingir o planeta dentro de 36 horas. Um alarme mundial esteve na iminência de ser divulgado.

A informação partiu de quatro dos mais conceituados observatórios astronômicos, entre eles o Instituto do Novo México e o Centro Planetário Minor, de Massachusetts. O dado teve aval do Laboratório de Jato Propulsão, um dos principais órgãos da Nasa. Rapidamente, diversos telescópios apontaram para o local desta detecção. A conclusão foi que o 2004 AS1 era muito maior. Tinha 500 metros de largura e passou a uma distância de 12 milhões de quilômetros da Terra, desta vez sem representar perigo.

Em 2003, outra grave descoberta abala o mundo. Um asteróide gigante, com aproximadamente dois quilômetros, ruma para a Terra e atingiria o planeta em 2014. Ele apareceu nos céus do hemisfério sul, o menos estudado, e foi detectado pelos australianos. Denominado 2003 QQ47, a pedra de 4,5 bilhões de anos teve calculado sua data de colisão: 21 de março de 2014. A força do impacto teria o efeito de 20 milhões de bombas atômicas de Hiroshima. O alerta foi feito pelo Centro Britânico de Informação sobre Objetos Próximos à Terra.

Momentos de angústia e crise no meio astronômico. Depois de diversos cálculos chegou-se a conclusão que o corpo celeste tinha a chance de colidir com a Terra na proporção de um em 909 mil. Uma loteria celestial cujo prêmio é a catástrofe bíblica. Porém, o homem parece se esquecer das profecias e dos sinais constantes que recebe das profundezas do espaço. Com toda tecnologia do segmento espacial, inexiste ferramentas para destruir ou alterar a rota destas rochas.

O chefe do departamento de astrofísica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Alexandre Wuensche, salienta que há um bom monitoramento, principalmente no hemisfério norte, já que os poderosos observatórios da porção sul estão destinados a outras finalidades em termos de pesquisas.

O esforço científico mundial é concluir o mapeamento de todos os corpos com mais de um quilômetro de diâmetro até 2008. “É quase im-possível que um desses bólidos em rota de colisão deixe de ser visto, mas não temos nenhuma defesa para isto”, conclui.

O berçário de cometas e meteoróides está a 30 trilhões de quilômetros da Terra, na Nuvem de Oort, fora do sistema solar. Mas grande parte dos bólidos que traz perigo se encontra no Cinturão de Meteoros, que passa por trás do Sol e de Marte. São bilhões de pedras cósmicas numa marcha funesta e caótica, de onde pode sair a qualquer instante uma rocha rumo a novos alvos.

O cientista do Inpe explica que os meteoróides movem-se no espaço com velocidades que podem atingir até centenas de quilômetros por segundo. São corpúsculos cuja massa oscila entre poucos miligramas e, no máximo, alguns quilos. Ao se deslocarem em direção a Terra, chocam-se violentamente com o gás atmosférico. Neste atrito se produz energia suficiente para vaporizá-los.

No entanto, há os que conseguem ultrapassar as camadas atmosféricas mais rarefeitas, penetrando também nas mais densas. A grande maioria dos meteoróides que se aproxima da superfície terrestre desintegra-se entre os 200 e os 100 km de altura. Os corpos de massa elevada conseguem chocar-se nos continentes ou oceanos. Os efeitos são os mais diversos, desde a formação de crateras até provocar ondas gigantes e estragos ambientais.

O risco de impacto é diário. Essa afirmação parece ser a única certeza no mundo caótico dos corpos celestes errantes. Movidos pela Geometria Fractal, cujo conceito mostra existir correlações mesmo em eventos aleatórios e aparentemente distintos, os bólidos estão sujeitos a essa inconstância. Como explica o astrônomo paranaense e membro da Sociedade Astronômica Brasileira, José Manoel Luis da Silva. “Não há uma trajetória precisamente regular, não se pode dizer que um objeto nunca será desviado de sua órbita nominal”, afirma. Algo que põe buraco abaixo a ciência clássica, sempre regida por leis determinísticas.

Dificilmente a dinâmica do cosmos conseguiria ser explicada por uma visão meramente temporal e terrestre, como prevê o determinismo. Segundo essa forma de raciocínio, os fenômenos naturais podem ser previstos sempre. Isto transformou a ciência em refém da geometria linear, rígida e inexata quando se trata dos ordenamentos cósmicos. “Nada no universo é de graça, tudo tem uma razão e é gerado por esse imenso caos”, explica José Luis.

Seria, então, um erro descartar qualquer asteróide que um dia representou algum risco para a Terra. Pois uma inesperada conjunção de fatores aleatórios pode colocá-lo novamente em rota de colisão. Contudo, o planeta azulado conta com alguns escudos importantíssimos. A Lua, a força gravitacional de Júpiter e a própria atmosfera terrestre são cruciais para minimizar o potencial destrutivo destas rochas. “A gente não vê uma política global para esses corpos impactores”, comenta o geólogo do Inpe, Paulo Roberto Martini.

Enquanto os astrônomos se esforçam para mapear os grandes asteróides, os tidos como pequenos, ou seja, com menos de um quilômetro são deixados de lado. Sequer há instrumentação para se observar esses fragmentos. Pelas estatísticas, são eles que atingirão a Terra. Os estudos preliminares mostram que há duas grandes quantidades de pedras, na faixa dos 350 metros e outra por volta dos 200 metros.

As rochas maiores cairiam provavelmente no mar e as menores, nos continentes. Em ambos casos os efeitos sobre o meio ambiente terrestre seriam danosos. Grandes incêndios, agravamento do efeito estufa, prejuízos incalculáveis para a lavoura e até mesmo a formação pontual de nuvens de poeira cósmica impedindo a passagem da luz solar. “A verdade é que não temos projetos sendo desenvolvidos para se evitar os impactos, tudo ainda está na especulação. Não tenho dúvidas que a situação é séria e grave”, alerta Martini. — Júlio Ottoboni

Pirâmide na Serra do Mar

25 de abril de 2010

Mistério que ainda não sensibilizou o segmento científico

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) estuda uma estrutura feita de granitos, que pode vir a ser a primeira pirâmide do Brasil. O geólogo e mestre em sensoriamento remoto, Paulo Roberto Martini, chegou a uma conclusão inicial. Essa composição de rochas foi feita pelo homem. O monumento foi descoberto por acaso, numa fazenda no município paulista de Natividade da Serra, nos limites do Parque Estadual da Serra do Mar. São imensas pedras cortadas e empilhadas na forma de degraus até seu topo.

“Ainda é cedo para afirmar algo de concreto, mas estamos diante de uma construção feita por uma civilização primitiva avançada”, destaca o cientista.

Além de um amontoado de pedras, esse também é o mais novo mistério da arqueologia brasileira e coloca sob discussão a historia atual da ocupação do território brasileiro no período pré-descobrimento.

Basta ter contato com os milhares de blocos graníticos recortados e distribuídos na encosta de um morro para que surjam inúmeros questionamentos. Que cultura seria está ? Em quanto tempo fizeram essa edificação ? Por que e quando foi construída? Perguntas que dificilmente serão respondidas de pronto, mas que prometemgerar um turbilhão de dúvidas, polêmicas e especulações.

O local fica próximo a um riacho, que poucos metros a frente deságua no Rio Paraibuna. Os imensos blocos graníticos, cortados com precisão, continuam parcialmente empilhados. Com o tempo acabaram por perder o traço construtivo original, mais inclinado e no formato de uma grande escada ascendente. Os imensos tijolos podem ser visto na superfície. Uma boa parte se encontra soterrada pela erosão e outra ainda sustenta a estrutura em largas paredes. Vários, porém, se deslocaram com a ação do tempo. As chuvas e o peso das rochas recalcou o terreno, fazendo-os escorregar ou mesmo criar pequenos empilhamentos.

Basta remover um pouco da terra acumulada para se desvendar uma complexa armação. As
pedras, geralmente em formato retangular, variam de 1 a 2 metros de comprimento, de 0,40 a 0,70metro de espessura por 0,80 a 1 metro de largura. Foram assentadas bem unidas e os vãos – quando existiam – foram completados com pedras menores e fixadas por uma mistura de barro, semelhante a argamassa.

Duas faces do monumento estão recobertas pela mata. Nestes locais se encontram centenas de pedras, tendo as raízes das árvores tendo movimentado diversas delas. Numa tentativa de desvendar maiores detalhes do monumento, uma das faces acabou sendo alvo de escavações sem qualquer critério feitas pelos empregados da fazenda, incluindo a remoção de grandes pedras com o uso de tratores de esteira. A lateral da esquerda ainda não foi mexida.

Entretanto, outro aspecto intrigante está nos ecos que podem ser provocados. As batidas de um vergalhão de ferro dentro dos buracos que surgiram é possível ouvir a ressonância.

Provavelmente o efeito do som refletido numa câmara existente no interior da pirâmide. Usando a barra de ferro como instrumento improvisado foi capaz também de se ter uma noção da largura da parede. Provavelmente ela ultrapasse a um metro.

Técnica desconhecida

Entretanto, o intrigante é que essa região era habitada pelos índios Tamoios, que desconheciam a
tecnologia empregada no corte de blocos de pedra e sequer tinham a tradição de criar monumentos neste estilo. Segundo moradores do lugar, outras construções semelhantes se encontram numa propriedade vizinha. Essas, porém, estão recobertas pela Mata Atlântica e o acesso é dificultado pela densa vegetação.

As primeiras imagens deste monumento foram encaminhadas ao INPE pelo proprietário da Fazenda Palmeiras, Carlos Frahya, no final do ano passado. As fotos chegaram no final do ano de 2003 ao pesquisador Paulo Roberto Martini. Uma surpresa enigmática, que passou a ser alvo de estudos do cientista. E como qualquer mistério, quanto mais se pesquisa maior é o crescimento das dúvidas. “A textura das pedras é diferente, principalmente em alguns locais da edificação”, comenta o geólogo.

Segundo Martini, o tipo de rocha encontrada no local tem cerca de 2 bilhões de anos e fazem parte do Complexo de Varginha. Essa formação natural se estende pela Serra do Mar, começando nas proximidades de São Paulo seguindo até a Serra da Bocaina, na divisa com o Rio de Janeiro, e adentra a porção fluminense. Porém sua largura é pequena, alcançando algo próximo a 6 quilômetros. “Uma explicação geológica seria a erosão ter chegado à raiz das montanhas e provocado esse afloramento granítico, mas não há como explicar os cortes e a disposição das pedras”.

Esse tipo de rocha é de origem vulcânica e se forma comos primeiros derrames de lava no fundo do oceano, quando se dá início a formação das cadeias montanhosas. O tipo de entalhe das pedras é muito próximo ao utilizado pelas civilizações pré-incaicas, que habitaram os Andes. Ou mesmo dos fenícios, que eram exímios navegadores e utilizavam grandes marcos de pedras para que grupos de sua mesma cultura pudessemse orientar tanto no mar como em terra.

Como Natividade da Serra é situada dentro do eixo Rio-São Paulo, os indígenas encontrados na
época do descobrimento nesta região só usavam pedras para ponta de fechas, arpões e machadinhas. “Até o momento não há registros que esses povos nativos fizessem monumentos de pedras entalhadas, principalmente usando grandes e pesados blocos”, salienta o cientista.

Em suas pesquisas, Martini descobriu em manuais de sensoriamento remoto (sistema que produz
imagens da superfície do planeta a partir de satélite) semelhanças na formação de Natividade da Serra com outras construções de culturas primitivas avançadas, que habitaram o próprio continente americano. “Os monumentos de sinalização do Novo México são muito parecidos com esse encontrado aqui”, afirma.

Mistério reforçado

Na tentativa de evitar algum aspecto meramente especulativo, o geólogo chega a uma conclusão
óbvia. “Não há dúvida que aquilo é algo muito antigo e feito pelo homem”. O cientista foi buscar outras informações no Manual sobre Arqueologia Brasileira e pode constatar que o uso das rochas cristalinas pelo indígena brasileiro é desconhecido. Embora existam as edificações nas Reduções Jesuíticas, no Sul do país.

“Mas lá se trata de arenitos. A típica cultura rochosa-granítica conhecida na América do Sul é a dos Incas”, observa.

Entretanto, outra formação encontrada na altura da entrada da estrada de Salesópolis, que liga a
Rodovia dos Tamoios, no litoral norte paulista até a região metropolitana, foi identificada em pesquisas anteriores feitas pelo INPE a ocorrência de granulitos, rochas muito antigas compatíveis com aquelas próximas do cume da Serra da Mantiqueira.

A dúvida agora é saber se há ligação entre a possível pirâmide com outros monumentos e
formações encontradas. “Não sei ainda se ela poderia estar alinhada com o que encontramos próximo a Tamoios ou se há ligação entre elas, apesar de estarem relativamente bem próximas”, comentou Martini.

A descoberta desta possível pirâmide reabriu a discussão sobre a presença dos Incas no território brasileiro. Eles teriam percorrido um caminho entre os Andes e a costa atlântica, conhecido como Peabiru.

Essa antiga estrada e seus ramais cortavam os territórios atuais dos estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Um possível elo entre ambas ocorrências tem surgido como lógica aos pesquisadores, que dão agora seus primeiros passos para desvendar esse mistério.

Visitantes levaram pedras do local

Ao longo dos meses após a descoberta, feita em agosto de 2002 pelos funcionários da fazenda,
houve uma verdadeira romaria de curiosos ao lugar. Segundo os empregados, diversas pessoas ficavam vasculhando horas em meio às ruínas e nos arredores. Alguns grupos chegaram a movimentar blocos, promover pequenas escavações e até mesmo levar pedras entalhadas menores que cabiam no porta-malas dos carros.

A justificativa dos visitantes para retirar elementos da ruína beira ao ridículo. Numa ação bem próxima ao vandalismo, essas pessoas buscavam recolher os blocos de corte mais preciso para levar.

Nesta falta de consciência preservacionista, o cenário não podia ter piores atores. Todos os saqueadores eram de classe média alta e com alto grau de instrução,  segundo o capataz da fazenda, Paulo Antônio Morais. E  ainda obrigavam os empregados a ajudar nas remoções.

“A maioria era amiga do patrão”, explica. “Teve gente que saiu como carro cheio de pedra dizendo que se isto aqui for uma pirâmide mesmo elas vão ficar ricas”.

De acordo comos moradores do Bairro das Palmeiras, onde se localiza a fazenda, o dono do lugar é o médico Carlos Frahya, bem sucedido profissional liberal, morador em São Paulo, Ele visita com certa regularidade a fazenda e depois do insucesso de encontrar ouro no lugar, agora pensa em tornar as ruínas uma atração turística. “Eu e outros colegas estamos tentando juntar as pedras que o trator tirou para acertar de novo a pirâmide”, confessa o empregado Paulo Morais.